Os dias que
amanhecem e no anoitecer, intuo melhor o ritmo frenético dos carros, o vermelho
das sirenes histéricas, alaridos dos noctâmbulos perambulando entre as ruas
desertas e chuvosa da minha cidade. Paro por alguns segundos e penso, nas
crianças famintas, nos velhos abandonados, os hospitais lotados, as doenças no
subconsciente clamando por atenção percorrendo cantos sem voz e olhos que não brilham
mais. Assim, os dias se vão no imaginário tempo, que vai no êxtase em delírios
surgindo na percepção da mente sana e insana num lapso qualquer. É um pulsar
latejante no coração de quem procura abraços de paz, de amor sem cobranças,
mãos que afagam e agasalham, alimentos quentes e de um Amor que preencha um
cantinho do coração sem pulsação e cor. No anonimato, entre as ruas, becos,
viadutos, seguem os peregrinos de luz radiante e sorridente sem fazer média na
mídia, ou propagar aos cantos sua generosidade acolchoada de caridade. Escoltam
seu coração, e olham o quanto o sofrimento alheio é padecido, o quanto a fome
dos desvalidos bravata de dor, enxerga olhos pasmados ao receber a primeira
refeição e ser grato por cada gesto recebido naquela noite, que talvez na outra
não esteja... Ou estará... Pois, poderá ser próximo a refugiar-se nos braços de
Deus, sem prece e choro. Um corpo que padece dos sofrimentos que sua alma não
teve o privilégio de saber qual destino ou via a seguir, por que lá na curva do
caminho tinha alguém que o conduziu por ruelas e desertos de areias movediças
fazendo experimentar o lamaçal das misérias humanas. Julgar não faz parte do
contexto, nas angústias que gritam do lado de dentro, há um berro ecoando e ensurdecedor
dos sentimentos euforia, elevo uma prece pedindo misericórdia aos desvalidos.