Nada passa a paixão vivenciada na voz dos trovadores, enche de paz e sonhos um coração aprendiz que por medo de te magoar, afastou devagarzinho, mesmo sabendo que os devaneios a beira-mar poderiam gerar os conflitos internos, neste coração sem limites.
A
asa do tempo roçou teus cabelos negros, teus grandes olhos calmos miraram por
um momento o inescrutável Norte...
Eu
queria dar-te ademais dos sonhos e da paixão, tudo o que nunca foi dado por
nenhuma pessoa ao seu amor.
Quisera
dar-te, por exemplo, o instante que me vistes, marcada pela felicidade pela tua
vinda, pois o amor é anterior ao conhecimento.
O
teu amor foi tão cego que se ao contrário fosse, veria, então, em mim, na
transparência de meu peito, a sombra de tua forma anterior a ti mesmo.
Ah!
Pudesse eu dar-te o meu primeiro medo e a minha primeira coragem, o meu
primeiro medo à treva e a minha primeira coragem de enfrentá-lo, e o primeiro
arrepio sentido ao ser tocado de leve pela mão invisível da paixão, do amor
etéreo.
Gostaria
de dar-te, aquela madrugada em que, pela primeira vez, as brancas moléculas do
papel, diante
de mim dilataram-se ante o mistério da poesia subitamente incorporada; dá-la
com tudo que nela havia de silencioso e inefável - o pasmo das estrelas, o
mundo assombro das casas, o murmúrio místico das árvores a se tocarem sob a
Lua.
Longe
está o espaço onde existem os grandes voos e onde a música vibra solta.
O
canto do oceano, a lua prateando toda a imensidão das águas, num sopro de
suspensão e beleza, o vento nordeste em rajadas rápidas beija-me a fronte.
Minha
alma acorda para um grande êxtase sereno.
Fomos
à constelação perdida que caminha largando estrelas.
No
espaço dessas recordações, fui uma testemunha remota, tímida e solitária,
grudada à parede como os líquenes.
Desejo
sem nenhum sentido universal, ligadura primária que é preciso estirar para
sentir-se viva, junto a mais alta janela, no solitário entardecer.
Dono
da minha existência profunda, limito e estendo meu poder sobre as coisas.
Comentar
este passar de coisas é adquirir um tom. Roda-se sobre o plano inclinado de uma
tendência interior e vão aparecendo presenças: o achado sentimental, os
aspectos dilaceradores de partir ou de chegar.
Separei-me
de ti, pela qualidade infinitamente pura de minha afetividade.
No
isolado recanto de minha alma, a poesia, a vida e o amor há muito procurado e
hoje descoberto adquirem uma transparência sagrada.
Entre
os repetidos sintomas místicos, sinto o teu roçar de lenta frequência atuando
em meu redor com domínio infinito. Nas longas caminhadas a beira-mar, tua
ausente presença me acompanha, busca nos elementos da natureza, uma corrente
persistente e vital de claridade e mistério. Cada movimento entre a terra e o
mar era tu que falavas de novo, interminavelmente agitado pelo vento do mundo.
Esta
insigne ternura será para mim uma perpétua lembrança.
Despedi-me
do mar e agradeci pelo espetáculo, ele manteve sua altivez e calou minha
saudade.
Ninguém
se funde a ninguém, nós é que através da ilusão vivemos colados, mas na
realidade não passa - de um elo mágico invisível que liga os afetos e, as
almas. O amor é sempre uma força dirigida para a construção do ideal mais
elevado, mais perfeito, mais digno. A dúvida é realmente a antítese da fé e o
maior destruidor dos bons resultados.
Todo
amor anseia por unidade. Os amantes gostariam de se unir num só, mas como isso
implicaria na destruição de um ou de outro, eles então procuram uma união
conveniente, de modo a viverem juntos, conversarem e participarem dos mesmos
interesses.
Sem
o amor nós nunca nos aperfeiçoaríamos, pois, o amor é o ímpeto para atingir a
perfeição e a realização plena daquilo que possuímos.
No
sentido amplo da palavra, há amor onde há existência. Tem as mesmas dimensões
do ser.
O
amor é uma inclinação ou tendência a procurar unir-se à coisa amada para
aperfeiçoar-se por meio dela.
O
mistério de todo amor é que na verdade ele precede todo o ato de escolha.
A
pessoa escolhe porque ama, não ama porque escolhe.
O
amor que é apenas busca perde-se no egoísmo.
Se
colocado no espírito, cresce com os anos tornando-se mais forte à medida que o
corpo se debilita. Quanto mais ligado for, mais imortal tende a tornar-se.
Aqueles
que substituem uma emoção por outra, nunca chegam a amar verdadeiramente, pois
o Amor
autêntico sabe suportar desenganos e decepções.